O que era a Missa dos Catecúmenos?
A Santa Missa tem duas grandes partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Pode celebrar-se a Palavra sem a Eucaristia, mas não se celebra a Eucaristia sem a Palavra. O Ritual da Missa processa-se em conformidade com uma estrutura fundamental, que se tem conservado através dos séculos até aos nossos dias, desdobrando-se nestes dois grandes momentos. Na primeira parte existem os ritos iniciais, com o cântico de entrada, a saudação, o acto penitencial, o Glória e a oração colecta, depois começa a Liturgia da Palavra propriamente dita, com a primeira leitura, o salmo, a segunda leitura, o aleluia, o Evangelho, a homilia, o credo e a oração universal. À segunda parte chama-se Liturgia Eucaristica. Nela é feita a preparação do altar e a apresentação dos dons, a oração sobre as oblatas, a oração eucaristica composta pelo prefácio, o santo, a epiclese, a narração da instituição, a anmnese, a oblação, a segunda epiclese, as intercessões, a doxologia final; depois segue-se o rito da comunhão com o Pai Nosso, o abraço da paz, a fracção do pão, a Comunhão e a Acção de Graças, terminando a Missa com a bênção e a despedida.
Na Igreja primitiva, os catecúmenos (os que ainda não eram baptizados), tinham de sair uma vez terminada a Liturgia da Palavra, por isso se chamava a esta primeira parte a Missa dos Catecúmenos. A Liturgia Eucarística era chamada de Missa dos Fiéis, pois que era o momento em que os fiéis professavam o Credo. Aos não-baptizados, não era permitido permanecer na Missa dos Fiéis, porque apenas quem recebeu o Sacramento do Baptismo é que é considerado membro dos fiéis. O Sínodo de Laodiceia do século IV afirma a tradição de que os catecúmenos tinham de sair da liturgia antes que começasse a Missa dos Fiéis. E esta distinção entre a Missa dos Catecúmenos e a Missa dos Fiéis estava estabelecida nos ritos antigos da Igreja Católica. Santo Atanásio menciona que aos catecúmenos não se lhes permitia estarem presentes nos mistérios, e São Cirilo de Alexandria conta que tinham de sair antes que começassem as partes mais solenes do serviço. A própria Enciclopédia Católica reconhece o mesmo ensinamento da tradição. A antiga liturgia bizantina-eslava de São João Crisóstomo, na despedida dos catecúmenos antes da Missa dos Fiéis reza assim: “Que oremos nós,os fiéis, pelos catecúmenos, que o Senhor tenha misericórdia para com eles… Senhor e Deus, Jesus Cristo, como Salvador da humanidade: vele pelos Vossos servos, os catecúmenos, que curvam suas cabeças ante Vós. A seu devido tempo fazei-os dignos das águas da regeneração, do perdão dos seus pecados, e do manto da imortalidade. Uni-os à Vossa santa, católica, e apostólica Igreja, e contai-os entre o Vosso rebanho escolhido.”
Era assim o discernimento da Igreja e dele se compunha um entendimento zeloso de que nos catecúmenos, pela escuta da Palavra, deveria nascer uma forte vontade em aderir à Fé Católica, a ponto de os levar a querer crescer no conhecimento do nosso Credo e do Mistério Eucarístico para então estarem em condições adequadas de participar na segunda parte da celebração.
Tal como Jesus nos ensinou: «Por isso, todo o doutor da Lei instruído acerca do Reino do Céu é semelhante a um pai de família, que tira coisas novas e velhas do seu tesouro». Nos nossos dias, em algumas igrejas, durante as Missas da Quaresma, ainda se procede desta forma com aqueles que se vão baptizar na Vigília Pascal. Toma-se este gesto mais como uma memória da tradição (rito que pretende bem dispor-nos para aceitar um dogma de fé), do que por imemorial Tradição (verdade incontestável da fé de sempre).
E a sabedoria popular portuguesa, na veemência da sua piedade católica, continuou a perpetuar a importância e a felicidade de poder participar na Missa inteira, usando ao longo dos tempos a tão antiga, quão conhecida expressão de advertência e convite: “… e não sabes tu da Missa a metade!!!!”