O que é a Missa das Cinzas? Nesta 4º-feira, dia 6 Março, começa o Tempo Litúrgico da Quaresma. O Tempo da Quaresma ocorre nos quarenta dias antes da Páscoa (não se contam os Domingos). No primeiro dia deste vigoroso Tempo do Ano Litúrgico, a Igreja, cobre-se de cinzas na liturgia, dizendo a todos os fiéis com este austero rito da imposição das cinzas – somos pó e ao pó havemos de voltar!. Este imperativo é proposto à mente dos fiéis mediante as palavras “Convertei-vos e crede no Evangelho”. As cinzas recordam-nos a fragilidade e a transitoriedade da vida humana, elas são para nós, Católicos, um símbolo sobre o necessário e indispensável dever da “metanóia”, da conversão, da mudança de vida. Na Missa das Cinzas, o cristão recebe do Sacerdote, uma cruz na fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior. Esta marca deve ser deixada até ao pôr do sol. Este simbolismo relembra a antiga tradição bíblica de pôr cinzas sobre a cabeça em sinal de arrependimento perante Deus. Para nós, Católicos, é um dia de jejum e abstinência, não sendo por isso um acaso o facto desse dia ser precedido pelo carnaval, palavra que vem do latim caro vale e que significa “adeus à carne”. Esta primeira penitência quaresmal ajuda-nos a ganhar consciência do facto de que estamos de passagem neste fadigoso itinerário sobre a terra. Recorda a nossa fragilidade, a finitude da vida presente, a nossa morte. Se não tivermos na nossa vida Aquele que é raiz da Vida, Deus Excelso, o que nos resta é apodrecer num caixão. E repare-se que a morte física, não é mais do que uma pálida imagem de uma morte ainda mais terrível: a condenação eterna daqueles que partem deste mundo privados da graça divina. Por isso, o facto da nossa vida aqui na terra ser uma passagem, marcada por um fim, deve ser motivo para aproveitarmos todo o tempo de que ainda dispomos para combater o nosso egoísmo e prepararmo-nos para o dia em que vamos comparecer diante de Deus limpos de toda culpa e ornados de graça e santidade. Contrariamente ao que dizem os foliões desenfreados, a vida não são dois dias, a vida da alma é eterna e isso deve estimular-nos a trabalhar até ao fim.
O que é Tempo Liturgico? O ano liturgico é o período de 12 meses, divididos em tempos litúrgicos, onde se celebram os mistérios de Cristo, assim como os Santos. Para organizar as comemorações religiosoas a Igreja estabeleceu um calendário de datas a serem seguidas, que se chama“Calendário Litúrgico”. O Ano Litúrgico começa no 1º Domingo do Advento e termina no sábado anterior a ele. O Ano Litúrgico está dividido em “Tempos Litúrgicos” e compreende dois tempos fortes, o Tempo da Páscoa, que é precedido pela Quaresma e o Tempo do Natal, que é precedido pelo Advento; nos restantes dias estamos no Tempo Comum.
Tempo do Advento – são quatro semanas antes do Natal, terminando no dia 24 de Dezembro. É um tempo de preparação para as solenidades do Natal.
Tempo do Natal – começa na véspera do Natal de Nosso Senhor e vai até à Festa do Baptismo do Senhor.
Tempo da Quaresma – dura quarenta dias, inicia-se na Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-Feira Santa antes da Missa da Ceia do Senhor. É um tempo de conversão e penitência, jejum, caridade e oração em preparação para a Páscoa do Senhor. Neste período, na Missa, não se diz o Aleluia, nem se usam flores na Igreja, as imagens podem ser veladas com tecidos roxos, com exceção da cruz, que só é velada na Semana Santa, não devem ser usados muitos instrumentos e não se canta o Glória a Deus nas alturas, para que as manifestações de alegria sejam expressadas de forma mais intensa no tempo que se segue, a Páscoa.
Tempo da Páscoa – período entre o Domingo de Páscoa e o Domingo de Pentecostes, são cinquenta dias. Com o Domingo de Ramos aproximamo-nos do intenso Tríduo Pascal. Na Quinta-feira Santa temos a Missa da Santa Ceia do Senhor, nela celebramos a Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, e comemoramos o gesto de humildade de Jesus ao lavar os pés dos discípulos. Na Sexta-Feira Santa celebra-se a Paixão e Morte de Jesus Cristo, por isso acontece apenas uma Celebração da Palavra, com Adoração da Cruz e a Comunhão. Durante o dia de sábado, Sábado Santo, a Igreja não exerce a Santíssima Eucaristia, pois permanece em contemplação de Jesus morto e sepultado. Mas chegada a noite desse sábado, o tempo já pertence ao Domingo de Páscoa e acontece a tão esperada Vigília pascal, o ponto máximo da Páscoa: o Domingo da Ressurreição.
Tempo Comum – restam no ciclo anual 33 ou 34 semanas. É um período sem grandes acontecimentos, mas que nos mostra que Deus se faz presente também nas coisas mais simples.
Estes Tempos Liturgicos são só para a Missa? A liturgia ajuda-nos nos pequenos actos da igreja doméstica a caminhar rumo à santidade. É por isso muito aconselhável que as famílias transportem estes tempos litúrgicos, as festas, as vigílias, para o dia-a-dia em casa, criando ou desenvolvendo costumes piedosos relacionados com a liturgia. Tratam-se de devoções pessoais ou tradições pessoais (de enfeites da casa, culinária, orações, leituras, penitências, etc) que derivam das tradições da Igreja. Assim podemos viver melhor o ritmo cristão da nossa existência, andando no compasso do calendário da Igreja, e tornando a liturgia mais “nossa”. Desta forma é mais fácil participar da Missa já que nos associarmos ao que a Igreja Universal faz, e fazemos a nossa família realmente uma igreja doméstica. Na nossa cultura há uma série de costumes familiares, gastronómicos, devocionais, que estão intimamente relacionados com a liturgia, ao manter estas tradições piedosas em casa estamos a passar às gerações vindouras um conhecimento e um amor a Deus tão subtil quanto genuíno.
Um Feliz e Santo Domingo Gordo!