Foi lançado em fevereiro passado um livro do professor Salgado Matos (Gradiva, 2018) sobre o Cardeal Cerejeira que constitui, na nossa modesta ótica, uma obra fundamental para compreendermos a história contemporânea do Patriarcado de Lisboa e para percebermos como Gonçalves Cerejeira foi essencial para o Patriarcado se reerguer dos cacos em que se encontrava, a partir de 20 de agosto de 1928, data em que tomou posse como bispo titular, mandato que perdurou até 1971, ano em que Paulo VI aceitou a sua resignação.
Nada foi como dantes, depois do Cardeal Cerejeira assumir a cátedra olissiponense. Foi encetada uma obra de reconstrução espiritual e física a todos os níveis notável. É que o prelado que veio do Minho encontrou uma diocese sem clero, sem dinheiro e sem infraestruturas. Lembremo-nos que a Igreja foi espoliada de grande parte dos seus imóveis, no tempo da I República (1910-1926).
Salientamos a edificação do Seminário dos Olivais para o qual o prelado constituiu uma equipa formadora de padres estrangeiros, provenientes sobretudo da Holanda, possuidores de uma arejadíssima visão eclesial para a época. Dá que pensar: padres estrangeiros nos lugares mais importantes da diocese. Torna-se paradigmático este convite efetuado a clero estrangeiro para ocupar lugares-chave, cargos de topo, na estrutura diocesana. Este é o ADN de Lisboa, uma marca olissiponense vincada no saber acolher, um distintivo aliás único na lusa eclesialidade. Nenhuma outra diocese aposta em clero oriundo de outras paragens como o Patriarcado. Quem pertence a outras dioceses e cá a trabalha poderá bem confirmá-lo.
O hospitaleiro engenho herdado de Cerejeira manifesta-se na atribuição de propostas concretas, eivadas de responsabilidade, a clero não autóctone.
Deixar esgotar o legado deixado pelo Cardeal Cerejeira seria uma grande perda para Lisboa, na nossa modesta visão pastoral. Que ele possa continuar a dar frutos por meio do clero exógeno que trabalha em Lisboa. O clero proveniente de outras paragens que trabalha em Lisboa tem uma dívida de gratidão a D. Manuel Gonçalves Cerejeira.